Material se auto-organiza e cria processador por
conta própria
Redação
do Site Inovação Tecnológica - 21/09/2016
Os óxidos complexos se auto-organizam em circuitos elétricos, o que cria
a possibilidade de criar novos tipos de chips de computador.
[Imagem: ORNL]
Auto-organização
computacional
Um dos grandes sonhos da
nanotecnologia é reconstruir a matéria de baixo para cima, molécula por
molécula, para que os materiais resultantes possam ter os comportamentos e as
propriedades que o projetista desejar.
Mas que tal então materiais que
nem dependam de tanto esforço, que possam se auto-organizar para formar
circuitos lógicos completos, capazes de fazer cálculos computacionais?
E, mais do que isso, que esses
circuitos possam ser "reescritos", rearranjados para cumprir funções
diferentes conforme a necessidade?
Longe das teorias, essa
possibilidade acaba de ser demonstrada experimentalmente por Andreas Herklotz e
seus colegas do Laboratório Nacional Oak Ridge, nos EUA.
Separação de fase
O material é formado por uma
mistura complexa de cristais de óxidos que, quando confinados em escalas
micrométricas ou nanométricas, começa a funcionar como se fosse um circuito
elétrico formado por múltiplos componentes, assim como um circuito eletrônico é
formado por múltiplos transistores, resistores etc.
Essa auto-organização parece
decorrer de um comportamento incomum dos óxidos cristalinos chamado separação
de fase - pequenas regiões no material apresentam propriedades eletrônicas e
magnéticas radicalmente diferentes das outras.
"O que foi interessante
neste experimento é que nós descobrimos que podemos usar essas fases para que
elas funcionem como elementos de um circuito. O fato de que é possível também
mover esses elementos de um lado para o outro abre a incrível possibilidade de
construir circuitos regraváveis no material," disse o professor Thomas
Ward, coordenador da equipe.
A separação de fase induz a formação de domínios
metálicos, isolantes e semicondutores que geram respostas do tipo resistor e
capacitor que podem ser controladas eletricamente. [Imagem: Andreas Herklotz et
al. - 10.1002/aelm.201600189]
Processadores customizados
Como as diversas fases respondem
tanto a campos magnéticos quanto elétricos, o material pode ser controlado de
várias maneiras, o que cria a possibilidade de novos tipos de chips e
processadores de computador.
"É uma nova forma de pensar
sobre a eletrônica, onde você não tem apenas campos elétricos sendo ligados e
desligados para seus bits - não é meramente ligar a energia. Isto aponta para a
exploração de abordagens completamente diferentes em direção a arquiteturas
multifuncionais, onde a integração de múltiplos estímulos externos pode ser
feita em um único material," prevê Ward.
Os pesquisadores demonstraram
esta nova abordagem inovadora em um material chamado LPCMO (sigla dos seus
elementos constituintes: lantânio, praseodímio, cálcio, manganês e oxigênio),
mas Ward observa que outros materiais com separação de fase têm propriedades
diferentes que podem ser exploradas.
"Isto significa que os
materiais e arquiteturas que servem de base aos supercomputadores, PCs e
smartphones, cada um com necessidades muito diferentes, não precisarão mais ser
forçados a seguir um único caminho, onde o mesmo chip deve servir para
todos," disse o pesquisador.
Bibliografia:
Multimodal Responses of Self-Organized Circuitry in Electronically Phase Separated Materials
Andreas Herklotz, Hangwen Guo, Anthony T. Wong, Ho Nyung Lee, Philip D. Rack, Thomas Zarc Ward
Advanced Electronic Materials
Vol.: 2 (9): 1600189
Multimodal Responses of Self-Organized Circuitry in Electronically Phase Separated Materials
Andreas Herklotz, Hangwen Guo, Anthony T. Wong, Ho Nyung Lee, Philip D. Rack, Thomas Zarc Ward
Advanced Electronic Materials
Vol.: 2 (9): 1600189
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